E a Terra nunca me pareceu tão distante
Meu coração ainda está batendo
Mas os pássaros já não cantam
Os dias continuam correndo
Mas as manhãs já não me encantam
O mar já me pareceu tão fascinante
Suas ondas me soavam liberdade
Ah! Como ele era apaixonante
Desse sentimento ainda tenho saudade
Lembro da beleza do céu estrelado
Do silêncio que só existe durante a madrugada
Do prazer em sentir o sopro do vento gelado
Mas tudo ficou na lembrança, agora nada me agrada
Eu já vaguei nessa cidade caótica e barulhenta
Nesse quadro que mescla o luxo e a miséria
Aprendi que aqui a ganância te adoenta
E o egoísmo é o nome dado a essa bactéria
Um dia eu fui um tolo idealista
Sabe aquele olhar brilhante? De sonhador?
Aquele que nasce de uma alma ativista
Que vê esse mundo doente, e enxerga a cura no amor
Hoje...
Meu pulmão ainda se preenche com ar
No meu peito? Algo ainda continua a bater
Mas antes da minha hora chegar
Todos saberão que eu morri antes de morrer
Eu morri e ainda continuo a respirar
Isso me lembra um ditado, e ele fica de aviso
Espero que quando a morte te encontrar
Ela te encontre vivo
Admito!
Eu sou um morto respirando,
Mas sei que o viver é instante, e o morrer é devagar
Eu sou um morto respirando,
Mas sei que pro vivo o futuro é esperançoso, e pro morto é assombrante
Eu sou um morto respirando,
Mas sei que o vivo sofre no chorar, e o morto no poetizar
Eu sou um morto respirando,
Mas sei que o ar que o vivo respira, pro morto é sufocante
Eu sou um morto respirando,
Mas sei que o vivo vê a vida passar, e o morto sente o tempo não passar
Porém...
Eu já fui um vivo respirando,
Até que um dia olhei pro mundo, e a Terra nunca me pareceu tão distante