Refúgio dos desprezados

Banheiro,

Quantas vezes sob teu amparo

Acolhestes aqueles que vêm chorar escondido?

Quantas vezes engolistes os seus choros

Pelos ralos do chão ou da pia?

Quantas vezes essas lágrimas

Desterradas pelo desespero

Acharam em tuas veias um abrigo abrasador?

Quantas vezes guardastes os vômitos dos bêbados

Despejados na lousa?

Tantas vezes em teu chão frio

Deitaram-se inconformadas

Pessoas com a própria tristeza!

Tantas vezes em teu chão frio

Outros sentaram-se abaixo do chuveiro

E suas lágrimas quentes se camuflaram

Nas águas gélidas que correm!

És tu o refúgio dos desprezados,

Dos que brigaram com as esposas,

Dos que beberam escondido,

Dos tímidos e mesquinhos

Das mulheres que vieram apenas

Retocar a maquiagem...

Sim, és também meu refúgio...