A MORTE DOS SONHOS
Já despi as utopias do meu eu quebradiço
Já descalcei minhas esperanças
Já borrei a pintura da aquarela
Já desdenhei das tardes de mar e sol
Já esqueci-me de me deslumbrar com a vida.
Sonhos são cristais que se estilhaçam
Não há uma forma de remenda-los e, se por acaso
o fizer, jamais serão como antes.
Despedaçaram-se meus sonhos
Ei de cola-los novamente?
Não
... Estão perdidos nas sendas do tempo!
Numa certeza abismal de quem já não pode querer o riso
Perplexidade ante o desdobrar de toda uma vivência
Estupefação diante da conclusão de quem nunca sentiu o amor
Apenas a sombra de sentimentos ambíguos
Mascarados de carícias de mãos frias no rosto
e toques sem calor nos cabelos amaranhados...
Não
É tarde!
É tarde demais para buscar imagens oníricas nas minhas noites
Deixem que a penumbra se apodere do recinto úmido
e que apenas o poema voe.
... O poema é livre prá sonhar
Eu não.
Anna Corvo
Heterônimo
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