Ninguém amou a morte tanto quanto eu
Vejo ao longe um estouro de fogos
a cortar o horizonte
Tudo no mundo é graça e beleza
tal como um sorriso de criança
Abro a janela, e tudo é céu azul
Há gosto de infância
e de pipoca-doce em minha boca
Mas para além das regiões azuis
nos domínios ocultos das abóbadas sidéreas
já posso pressentir o penoso rastejar de densas e pesadas nuvens
Reconheço os sinais:
um aperto no peito
uma mão inimiga às costas
vômito à boca
E tudo que é graça e riso
se desfaz em choro
Ninguém amou a morte tanto quanto eu
nem mesmo os mais devotos suicidas
Mas agora que a vejo sem o véu
sinto falta das dores mundanas
e de todos os sons humanos
ainda que eles machuquem
Mas que farei?
Como regressar ao colo materno?
Queimado foi o reino da infância...