Tempestade
A alegria pesou-lhe na face
E foi depositada na bandeja
Junto às correspondências.
O envelope pardo insistia
Vociferava. Grave, bruto, grosso.
E foi lançado ao pé da escada,
De onde seu único selo espreitava,
Buscando-a.
Até que seus olhos, mortos,
Náufragos e tristes
Derramaram a borrasca
No meio da tarde.
Molhando-lhe as dobras
Amareladas pelo tempo.
Ele foi se partindo, rasgando...
Foi derretido, lavado,
Afogado pela chuva que saía dela.
Não sobrou palavra, nem peso.
Ao recolher os óculos
Na bandeja das correspondências,
Sentiu que sorria.
Era o adeus pressentido
Que nunca dera.