O DIA CHEGOU

Quando abri a janela

Finalmente todas as cores brilhavam

Os pássaros

Todos os cantos cantavam

O verde era mais intenso

Perdi o medo dos lagartos

Eles me rodeavam

Dizendo: sim senhora!

Estava entorpecida

Alheia, era outra, não eu!

Quando segui seus passos

Me desencontrei

Rodopiei em um mar salgado e triste

Das lágrimas de meninas virgens

Na tevê estupradas

A pietá reproduzida

Em tantos Jesus

Nos braços de mães desesperadas

Perdi-me nesse rio seco

Sem vida

Onde o boto era rosa

A sucuri engolia gente

E no barco, um pescado e alguma prosa

Hoje engole lama

Aqui no sul, outra serpente

Gigantesca, engole de águas tantas vidas

Engole sonhos

Casas, retratos, papéis

Somos feitos de papeizinhos ...

De gole em gole

Vou sorvendo a Cachaça Tristeza

O verde sumiu

E a areia, virou lixo

Tudo imundo

Como esse coração vazio.

Madame F
Enviado por Madame F em 25/10/2023
Reeditado em 26/10/2023
Código do texto: T7916912
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