O DIA CHEGOU
Quando abri a janela
Finalmente todas as cores brilhavam
Os pássaros
Todos os cantos cantavam
O verde era mais intenso
Perdi o medo dos lagartos
Eles me rodeavam
Dizendo: sim senhora!
Estava entorpecida
Alheia, era outra, não eu!
Quando segui seus passos
Me desencontrei
Rodopiei em um mar salgado e triste
Das lágrimas de meninas virgens
Na tevê estupradas
A pietá reproduzida
Em tantos Jesus
Nos braços de mães desesperadas
Perdi-me nesse rio seco
Sem vida
Onde o boto era rosa
A sucuri engolia gente
E no barco, um pescado e alguma prosa
Hoje engole lama
Aqui no sul, outra serpente
Gigantesca, engole de águas tantas vidas
Engole sonhos
Casas, retratos, papéis
Somos feitos de papeizinhos ...
De gole em gole
Vou sorvendo a Cachaça Tristeza
O verde sumiu
E a areia, virou lixo
Tudo imundo
Como esse coração vazio.