O único desfecho positivo
Eu fantasio inutilmente
Assim como faria uma criança com mente fértil
Sobre as coisas mais tolas, cinzas e fúteis
Que apenas uma alma desprendida de qualquer esperança
Gastaria o próprio tempo almejando.
Me pego pensando em racionalidade, em igualdade
Sobre pessoas que conseguem manter a paz em momentos de frustração
Que não acendem o fósforo, não providenciam a folha
Que não assopram as brasas para que estas consumam
O pequeno rastro de felicidade
Que agora queima aceleradamente.
Sinto-me pequeno num mundo de gigantes decepções
Que me esmagam como um pequeno inseto, frágil
Como uma maldita mosca, ágil
Escapando dos aplausos que buscam seu fim
Pela ojeriza que ela lhes causa.
Minhas lágrimas já não significam nada.
Uma incansável demonstração da tempestade que me afoga
Que me desola, há dias, meses e anos
Da sensação de que nada realmente vale a pena
E que as coisas que valem, fogem do meu alcance;
Da insuficiência, das suas causas, das suas consequências
Das mazelas de uma mente que não acredita em nada
E antes de tudo, nem em si mesma;
Que busca tanto por algo que não sabe quando virá
Mas que torce que seja na primeira esquina,
No primeiro acidente.
Na primeira doença,
Que seja evidente:
Sou conivente com sua conquista
Sou melhor como vítima
Do que sobrevivente.
Desejos de que fosse enterrado, mesmo vivo
Esquecido em lugares que não se alcança
Varrido pelo tempo, sem menção em livros
Apenas um nome conjurado
Quando usado para qualquer outro.
Cair no mesmo buraco do qual eu rastejei
Adubar a mesma terra que eu salguei
Livrar as pessoas de um fardo que se agiganta conforme o tempo passa
Uma desgraça que vem vestida em notas de tristeza
Uma fortaleza que desaba no primeiro sopro.
E assim, que gritemos até ficarmos roucos
Para que não sobre qualquer tijolo
Que dê margem para minha reconstrução.
O único desfecho positivo
É aquele que não conta comigo.