Véspera da morte do coração
Perdido na relva da dor
sentenciado a mil anos de prisão
acorrentado a mil naus da ilusão
hoje, na véspera da morte do coração
sinto o ácido a corroer as minhas tripas
em cada desilusão.
Momentos que não voltarão
estrada sem chão
dor que desatina a doer
bomba atômica lançada na alma
peste e rubéola
já não fazem nada
pois a perda do amor
já foi o castigo para esta pessoa desalmada.
Véspera da morte do coração
tristeza e solidão
companheiras de viagem
almas afins
almas perdidas
almas feridas
neste deserto da dor
já não sei quem sou
apenas que a vida
já se desertou.
Poeta de mil vergalhões
naus acorrentadas nos penhascos da desordem
aves carnívoras prontas para o bote
no oceano da iniquidade
sou passageiro do navio da insanidade.
Poeta já fui
hoje sou uma sombra
aquilo que muitos dizem
é o que sou atualmente
uma aberração
sem amor, sem presente
apenas recordações de um passado,
ausente.
Pobre poeta
uns dizem
bem feito poeta, outros dizem
merecido o que está passando
aprendendo com a dor
a professora daqueles que não aprendem com o amor.
Nesta véspera da morte do coração
pedidos e pedidos de rebeldia
assolam este corpo vil
assopram palavras de baixo calão
no que resta da alma que se esvaiu
aos poucos
tomou chá de sumiço
deixou o calabouço
dos destroços deste infeliz ser vil.
Estrada da dor... acompanha a minha alma... por dentro de purgatórios, umbrais, infernos... pois sabe que, na véspera da morte do coração... toda a tristeza corroeu este pobre poeta sem amor e perdão...