O Silêncio de Maria
Não posso dizer que me disperso,
que me fragmento ou me abstraio...
que me perco da atenção...
Senti o impacto...
Cravou-se na alma,
mas, não me feriu o peito...
porque, não abri a porta
para as contrações
dos instrumentos de corte,
de abate ou aniquilamento...
Não preciso recomeçar-me
porque não me terminei,
nem derrubei pontes de sintonia
a ponto de necessitar reiniciar-me
em meu sistema de composições.
Era um mar turbulento e perigoso...
que eu naveguei com coragem,
pequena, mas imbatível navegadora...
Lágrimas rasgando o ventre, a face...
Lágrimas sendo levadas pelo vento forte.
Cheguei a cambalear...
Por momentos pensei ter morrido,
já que via meu corpo ao chão...
Era um mar turbulento e perigoso...
Fiz sozinha a travessia...
sem água e sem alimento para o espírito.
Milhões de horas navegando ao redor do mundo
lutando para manter viva a memória, o amor...
Viajor de duas asas, dois remos
e um levante de vontades
para a travessia.
Um mastro, uma rosa dos ventos
e uma bússola de mão...
Na face beijos de um anjo de luz,
no peito o pulsar de dois corações.
Era um mar turbulento e perigoso
que quase me destruiu...
Tentou me abater com suas tsunamis
incandescentes de dor...
Era... era sim...
Era um mar turbulento e perigoso...
Agora é essa meiga melodia de amor,
esse lago plácido, calmo e doce...
Esse mar de silêncio...
ao qual - Agora - vou me reservar...
Nele mergulho...
Silêncio!
Silêncio...