Dor roxa

Hoje, num ímpeto

Impulso repulsivo.

Arranquei

Do meio do caminho

Minha flor roxa.

Que teimosamente

Resistia ao intenso sol.

À falta d'água.

Ao ataque silencioso

Do exército disciplinado

De formigas famintas.

Atormentadas.

À tardinha

Fria,

Varri o pátio

De todas as saudades insanas,

E junto

De um só golpe,

Certeiro.

Ceifa-dor treinado.

Matei minha flor.

Ela já foi símbolo íntimo

(Desses que só a gente entende.)

De resistência.

A insistência dela

Aborreceu-me.

Ela nem é bonita.

Tem um odor horrível

Ao delicado olfato.

E é insistente!

Sua existência

Lembrou-me

A minha.

Não morria!

Crescia e espalhava

Suas sementes

Que brotavam

Caladas

Vulneráveis

Constantes

Matei-a!

E a dor?

Ah!

A dor voltou.

A dor roxa nunca curou.

Madame Butterfly
Enviado por Madame Butterfly em 15/09/2023
Reeditado em 15/09/2023
Código do texto: T7886472
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