Dor roxa
Hoje, num ímpeto
Impulso repulsivo.
Arranquei
Do meio do caminho
Minha flor roxa.
Que teimosamente
Resistia ao intenso sol.
À falta d'água.
Ao ataque silencioso
Do exército disciplinado
De formigas famintas.
Atormentadas.
À tardinha
Fria,
Varri o pátio
De todas as saudades insanas,
E junto
De um só golpe,
Certeiro.
Ceifa-dor treinado.
Matei minha flor.
Ela já foi símbolo íntimo
(Desses que só a gente entende.)
De resistência.
A insistência dela
Aborreceu-me.
Ela nem é bonita.
Tem um odor horrível
Ao delicado olfato.
E é insistente!
Sua existência
Lembrou-me
A minha.
Não morria!
Crescia e espalhava
Suas sementes
Que brotavam
Caladas
Vulneráveis
Constantes
Matei-a!
E a dor?
Ah!
A dor voltou.
A dor roxa nunca curou.