Vita Brevis
Ó enfermidade, flagelo imerso de abismos fortes,
Teu manto frio, teu hálito de tristeza e morte!
Em ti repousa toda a ausência de alvorecer,
A vida escoa como secas lágrimas neste chover.
Nas anêmicas artérias corre o taciturno veneno,
A ânsia do ato de viver_ este vão desejo pelo pleno_
E cá na alma a morte, cruel e maldita companheira,
Olha de dentro do meu olhar: silente, lugente e ligeira.
Ah, noite sem luz, céu morto de estrelas e luar,
A face do vazio a rondar tudo e a me atormentar!
A angústia, bipolar atormentada e dura amiga,
É a escura sina de quem a esperança inda abriga?!
Nas sombras gélidas e ígneas desse abismo vão
A esperança geme e suplica e canta, louca e cruel,
Como o grito do lamento do pensamento, em aflição,
Neste mundo de fel onde a vida é breve e o fim é fiel.
A morte, mão patológica e intransigente,
Caminha ao nosso lado, silenciosa e certa:
É o destino inexorável, o último beijo iminente,
Que nos aguarda sempre antes da cova decerta.
Em cada casa e leito, nos olhos de quem sofre,
A doença e a aflição tecem sua teia de sombras,
E o peito, na dor do coração, pela angústia incorre,
Na maleza do soluço, na tristeza que assombra.
E ao contemplar o rosto implacável da morte,
A alma treme, se agita, trôpega em seu passo:
Chorai, que é o abismo sem fim; o último norte,
A cova abominável, poço sem água e luz do lasso.
A alegria, qual leve sombra outonal, logo se esvai,
E o óbito é o pleno pó pálido de todo ente e ser corruptível.
Na festança fúnebre das almas mortas, a vida então cai e se vai,
E o que há além da porta da morte sempre será intraduzível.