Delírio de infelicidade
I
Eu sou suscetível
A atrações impossíveis,
A amores delirantes.
Nunca desejo
Quem me quer de verdade
Porque na verdade
Eu não quero ninguém.
Eu quero é sofrer.
Me punir por ser
Quem eu sou,
Como sou.
E eu tenho pressa
De me sentir amado,
De ser desejado.
Porque no fundo eu sei:
Não me resta muito tempo.
E eu quero morrer sabendo
De todas as coisas.
Sabendo de onde sopra o vento
Que bagunça meus pensamentos
E faz com que eu vaguei,
Sem nunca chegar a lugar nenhum.
II
Estou preso nesse planeta de água.
Água salgada
Enquanto tenho sede.
E o sol queima minha pele
Na sua violência diária.
Não navego,
Estou a deriva
Nessa maldita vida
Que me foi dada de presente
E pela qual não consigo ser grato.
Por favor Deus,
Me perdoe.
Eu sou errado
E não consigo sentir que o erro é meu
E sim que ele sou eu.
Eu não tenho como o corrigir
Sem ferir
Pessoas que eu amo
E que quero bem.
Dói estar ancorado
A margem da minha própria vida.
Queria ser completo
E não cheio de feridas.
III
Queria escrever sobre você
E não sobre mim,
Mas você sou eu,
Minha ideia.
Eu sempre tento preencher
Meu peito com as peças erradas.
E você é só mais uma,
Eu acho,
Mas posso estar errado.
IV
Eu admito:
Pouco sei.
O mundo é vasto
E meu cérebro quebrado
Aprende devagar.
Assim que chega o novo,
O velho desaparece,
Meu cérebro minúsculo
Não tem espaço,
Só cabe eu quebrado
E todo o resto eu só vejo pelas brechas,
Sem saber distinguir
O que é real
E o que é imaginado.
Cada vulto
Pode ser um amor
Ou um demônio.
Sem a certeza,
Tenho medo
E sem poder tapar os buracos,
Tapo os olhos
E me lanço na escuridão
Vazia e conhecida,
Essa é minha única vida.