Sorrindo perante inimigos
Meus olhos voltados ao vazio perdem a noção do tempo
Desejo, esqueço, percebo, me rendo
A vontade de conceder a minha mente autonomia
Sentar no banco de trás enquanto tudo some
Como em um efeito ininterrupto
Meus olhos colidem com meu ego
Vejo detalhes anatômicos se colidindo
Sorrio a ideia de causar dor a algozes injustos
E a vítimas embusteiras armadas
Não aceito menos que pisar
Sua voz sufocando embaixo dos meus pés
Sobre seu orgulho e expectativa
Desejava respeito falando com eloquência e força?
Sinto muito, mas eu não sou tão impressionável
Teria que atravessar em seus olhos nada menos
Que uma chave de fenda para entender
Que o medo ensinou-me que vale mais ter garras
Que ser dilacerado pelas presas de meus inimigos
Valia-me de amor como sonho sublime
Mas a falha de conviver por exercer excesso de bondade
E causar suspeitas mesmo com o mais genuíno gesto
Amor, bondade, gentileza, por fim fraquezas
Que me impedem de derrubar as barreiras
Levantadas todos os dias por atos falhos
Sinto desgosto pela figura que se tornou
Definhando em desertos de fogo e gelo
Eu não aceito nada menos que me devore
Eu não tenho direito a amanhecer em prantos
Eu sou só um ciclope olhando um mundo cego
Nada de que eu me orgulhe
Apenas pessoas impuras
Procuram
Afundam
Afrouxam
Perante o sofrimento para soluções confortáveis
Mas desde que procurar em olhos alheios um sonho
Me causou sofrimento
Eu canto o canto das gargantas rasgadas
Não há uma alma que acredite que eu vi
Do vazio as ondas sombrias em acordes a profecia
Da processão dos amargurados que me espera
Em direção ao túmulo, arrependido de uma vida sem autonomia