choro guardado
a escopeta de caça pendurada na parede,
e Hemingway tão impossível de ignorá-la;
as pedras decorando a beira do lago,
e Virginia tão impossível de andar;
a navalha guardada à sua espera,
e Vincent tão impossível de pintar;
as roupas banhadas um dia anterior,
e Lorca tão impossível de costas;
que dor;
o muro cravado de sonhos
a ser pintado
uma outra vez,
e Dostoiévski tão impossível de frente;
o pão e o leite deixados à beira da cama,
e Sylvia tão impossível ninguém viu se despedindo;
demasiada dor;
a garrafa de cerveja esquentando
em cima da mesa
em mais uma tarde
de um Rio de Janeiro
que nem eu e nem você
conheceremos,
tão impossível;
os papéis amassados
como quem nunca
contaria
sobre
os amores guardados,
jogados ao lixo,
queimados aos céus,
guardados dentro de si.
que dor!
que impossível dor
essa
de ser compreendida
senão por si mesmo.