choro guardado

a escopeta de caça pendurada na parede,

e Hemingway tão impossível de ignorá-la;

as pedras decorando a beira do lago,

e Virginia tão impossível de andar;

a navalha guardada à sua espera,

e Vincent tão impossível de pintar;

as roupas banhadas um dia anterior,

e Lorca tão impossível de costas;

que dor;

o muro cravado de sonhos

a ser pintado

uma outra vez,

e Dostoiévski tão impossível de frente;

o pão e o leite deixados à beira da cama,

e Sylvia tão impossível ninguém viu se despedindo;

demasiada dor;

a garrafa de cerveja esquentando

em cima da mesa

em mais uma tarde

de um Rio de Janeiro

que nem eu e nem você

conheceremos,

tão impossível;

os papéis amassados

como quem nunca

contaria

sobre

os amores guardados,

jogados ao lixo,

queimados aos céus,

guardados dentro de si.

que dor!

que impossível dor

essa

de ser compreendida

senão por si mesmo.

Cleber Junior
Enviado por Cleber Junior em 02/08/2023
Reeditado em 02/08/2023
Código do texto: T7851779
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