Contemplação da lápide
Olho para a minha lápide e não consigo acreditar
Neste vazio profundo que em meu peito faz morada;
As lágrimas rolam e não consigo nem me consolar,
Pois a vida se esvaiu, deixando só esta dor legada.
Olho para a minha lápide e não consigo acreditar
Na escuridão que me abraça; não vejo mais saída.
Memórias antes vivas, agora são o vazio a pairar,
E as alegrias desvanecidas são o túmulo da vida.
Olho para a minha lápide e não consigo acreditar,
O destino que me ceifou sem minha autorização,
Deixando-me sozinho, sem ninguém para amar,
E a solidão se tornou minha amiga nesta vil canção.
Olho para a minha lápide e não consigo acreditar
Como o tempo correu veloz e não soube aproveitar!
Levo comigo nesta cova sonhos que não pude realizar,
E a saudade aperta tanto o peito e não posso chorar.
Olho para a minha lápide e não consigo acreditar
Que os dias de sol deram lugar à densa escuridão.
A tristeza me envolve, sem chance de escapar,
E só resta o lamento nesta minha última oração.
Olho para a minha lápide e não consigo acreditar
Que a vida seguiu seu curso implacável e correto!
Tudo está aqui escuro e numa mudez de endoidar,
Maldito fado que me decepou com um golpe certo.
Olho para a minha lápide e não consigo acreditar
Que TUDO se foi, e aqui desapareço como neve.
A tristeza consome meu corpo e não posso evitar,
Sou apenas uma data da qual o mundo se esquece.
Olho para a minha lápide e não consigo acreditar
Que um dia fui feliz e pude andar, viver, rir e sonhar!
Agora sou sombra na escuridão neste reles mausoléu,
Sob a cruz podre que me prometeu vida, júbilos e céu.