Canção do Alvorecer
Sei que o tempo é hoje,
é agora;
sei, mas queria não saber.
Sei que o mistério é assombroso,
preguiçoso em sua hospitalidade.
Pela janela vislumbro o tempo avermelhado,
o céu pintado e chorando de saudade
daquele dia que findado está.
Sei que a canção é para ser elaborada
feito mãe costurando roupa de filho,
carinho exemplar e real, e profundo.
Os olhos da dor é atinente,
peculiar feito o tempo no relógio
que o presente doou para a saudade.
Alvorece em meu mundo poético, simples,
o gosto férvido da vida proclamada
entre o nimbo e o esvoaçar de tuas asas.
Sei a página é lida e relida e guardada,
sei e finjo que nada sei.
contemplo tua canção lírica, bucólica, universal:
contemplo-te, oh, poeta germinal.
Filho do acontecer, do iminente, do futuro
silencioso, artificial.