A menina amava uma rosa
O seu maior sonho
Mas, ela não era o desejo da rosa
Que se escondia em sua própria pequenez
Envergonhava-se de si
E anulava todas as possibilidades
De contato com a menina
Um dia, a menina contemplou o jardim
E estava repleto de centenas de Rosas
Cada uma, era única em sua majestade
E, diante da beleza de tantas Rosas
Nenhuma era como a sua Rosa
Amar, não é ter a propriedade
Pra chamar de "sua" Rosa,
Não existe o pertencimento,
Nem um apossar imaginativo,
A menina não é objeto da Rosa
E a Rosa nunca pertenceu a Menina,
Existiu de modo unilateral,
Isolado, apertado e frio.
A menina desconfigurou a Rosa,
E a desfez de sua mente,
Mas nunca poderá excluí-la
De um certo lugar,
Não encontrou manual,
Nem nos livros,
Ou em pesquisas,
O coração ainda é morada,
Abriga, aconchega e aquece,
A menina, questionava
Como iria encontrá-la,
Não mais na mente,
Decidiu não procurar,
Não perseguir,
Não vigiar,
Não observar,
Não preocupar,
Não pensar,
Não mais, lembrar
Ocupou-se suficientemente
Para não mais lembrar da Rosa,
De modo, a torná-la comum
Não mais especial ou única
Mas apenas uma rosa
Dentre centenas e milhares
Sem particularidades,
Singularidades,
Ou quaisquer motivos,
Que poderiam torná-la diferente,
Excluiria todos os detalhes,
Mudando a sua observação,
Não fazendo distinção entre as rosas,
Pois, não era mais um encanto,
Não contemplava as rosas,
Permitiu-se olhá-la,
Sem admirar-se,
Permaneceu na superfície,
Observativa do outro,
Como qualquer outra,
Seja esta a caminhar pelas ruas da cidade,
Ou, aquela que anda apressadamente,
São pessoas,
Ocupadas,
Preocupadas,
Lutando pela auto suficiência,
Não perceberam você,
Nem virão a saber,
Que a coisificação é a extrema baixaria,
A indiferença é pagamento,
O desaparecimento,
É um sincero oferecimento,
Enquanto, definha monstruosamente,
Apodrecendo e mofando
No cubículo maldito do vácuo,
Mas há um lugar,
Feito de ouro,
Em que repousa,
Todas essas tralhas e pedaços
De memória,
Não estão na mente,
Mas eternizam
Majestosamente
No Palácio de seu coração.
Quer aceite ou não,
A menina cuidava da Rosa,
Dentro do peito,
Livre,
Adormecia delicadamente,
Aquecida repousava,
Como uma majestade.
A menina nunca soube encontrar,
Uma brecha de saída,
Atalho,
Desvio,
Carona,
Pra Rosa mudar,
Sair,
Sumir
Ela carregava em si,
O perfume e a própria Rosa,
Não materializada,
Mas, dissolvida em puro sonho,
Era a sua inspiração oculta,
A Rosa fincada profundamente,
Cravada pelo ato sincero e
Singelo de liberdade,
Como morada honrosa,
Majestosa,
Delicada,
No coração da menina
Ali, a Rosa
Fazia-se presente
Em um estar,
Minuciosamente,
Vivido,
Latente,
Pulsava em sincronia
Com as batidas
Do coração ansioso
Da menina.