O CHORO DO CÉU TRISTE
Lágrimas de dor, lágrimas de sangue
Não adianta olhar pro céu que o céu chora
A mesma, mesma voz que grita "avante"
Vê sua esperança morrer de hora em hora
E renascer no pender da noite
Não adianta sentar me à janela e esperar pela poesia
Do mar, do vento, dos pássaros noturnos à melodia
Porque tudo isso soa como um grito de dor desesperado
E sanguinolento, violento, dos que nunca são encontrados
Sejam eles pessoas ou a intrínseca dor da qual cada um se reconhece nesses gritos
No agudo absurdo da dor de uma alma, no sangue metafórico, metafísico
Que é real mas não é visto, que inflama a dor que consideramos morte
"Morta seja essa dor", clama a nossa revolta
Ela não se vai, não sai, ela volta
Não adianta olhar a chuva que ela é lágrima
Pra um coração quebrado, tudo é lástima
Não adianta olhar pra noite e procurar doçura no escuro degradê
Todas as estrelas do céu noturno falam de você
E eu já não aguento mais, só quero esquecer!
Os soluços meus são sufocados pelas lágrimas discretas
O efeito cumulativo da dor é doentio, quanto mais se sofre
Mais se quer escapar para uma vida melhor, mais fácil, mais certa
E largar inacabada essa vida onde em cada minutinho se morre
Eu não quero mais sentir dor!
Os olhos secos olham as estrelas, as estrelas são incomunicáveis
Frias, distantes, muitas já mortas, não ouvem, não falam, impalpáveis
Elas são referências de tantas coisas boas mas hoje elas são uma triste lembrança
Do sangue que ainda corre na minha alma, nas dilaceradas, esfareladas esperanças
Os olhos úmidos querem já não abrir mais, não se importar com mais nada, morrer pra tudo
Esse é o meu luto, o meu luto, o meu luto
Meus olhos doem
Inocentes, inocentes gotas - escorrendo pelas frias entradas do vidro até minha face sombria
Se fossem dos meus olhos, não seriam tão inocentes, carregariam a mácula da dor da vida
A qual fomos condenados a carregar até o fim, dor de viver
Viver dói, viver machuca, viver, viver - isso é sofrer!
E ainda assim não há vida fora disso neste momento de peso, de desconforto, traumas e brigas, de martírio
A manhã já chegou, a dor não passou, a fria geada não acalmou, no jardim, nasceu um pequeno lírio
Mas a dor não acabou.