Deixaram-me partir cedo
Por que me deixaram assim tão cedo partir?
Nesta vida efêmera, sem ao menos permitir
Que eu visse o mundo, desse adeus com calma!
Agora sou só lembrança, um corpo sem alma.
Por que de minha família tão cedo me arrancaram,
Eu supliquei a um Deus curas que nunca chegavam!
Deixaram vazios alguns corações que me amaram,
Enquanto uma doença cruel dentro de mim cravaram
Por que me roubaram os sonhos e os planos,
E me deixaram nessa solidão, nesses danos?
As esperanças que havia com vida em meu peito
Foram brutalmente assassinadas, num despeito.
Por que a vida me foi tomada tão prematuramente,
Deixando-me imerso neste vil vazio para sempre?
Eu ainda tinha tanto para sentir, para amar, para viver,
Porém fui arrancado deste mundo sem nada entender.
Por que me deixaram partir tão cedo, sem aviso,
Pois eu só queria um amor, um amigo, um abrigo!
Agora apenas sou uma mera sombra na lembrança,
Sou ausência, uma chama apagada, uma morta criança!
Por que me deixaram morrer inexoravelmente cedo?
Acreditam que estou no céu, em um oásis sem medo?
Debaixo da terra jaz meu corpo o qual não foi amado,
E o vazio e a solidão que me cercam por todos os lados.
Por que a despedida foi tão abrupta, tão cruel,
Deixando para trás um mar de dor e um véu?
Não pude sair e viver, não pude dizer adeus,
Fui ceifado tão cedo sem escolha pelo bondoso deus.
Por que me deixaram ir embora com tanta dor,
Sem nem me permitirem conhecer o real amor?
As perguntas gritam sem respostas em minha cabeça,
E minha família busca consolo antes que enlouqueça.
Por que me deixaram tão cedo partir,
Deixando-me enterrado, no frio sentir?
Meu coração se enche de angústia e dor,
Por que me privaram da vida, do amor?
Por que roubaram meus sonhos e esperanças,
E me jogaram nesta cova de mórbidas lembranças?
Em meu simples velório alguns talvez choraram,
Uma semana depois em festas eles riam e celebravam.
Por que me negaram a chance de simplesmente viver?
De ter uma família e poder aquele novo jardim florescer?
A saudade é uma ferida a qual fingimos que se apaga;
Todavia, a perda da pessoa que se ama jamais se cala.
Por que me deixaram tão cedo partir,
Sem me permitir desabrochar e existir?
Eli, Eli, Eli, lamá sabactâni?
Sinto-me perdido, um fantasma no vazio,
Desejando uma voz, um amigo, um alívio.
Para sempre ecoa no eterno silêncio o meu lamento,
Enquanto meu humano coração buscava algum alento.
Por quê... Por que me deixaram tão cedo ir, partir?
Tudo é triste neste caixão enquanto todos estão a viver,
À proporção que meu ser e memória continuam a apodrecer.
Eli, Eli, lamá sabactâni? Só me deixaram sofrer!
Por que não me deixaram apenas amar e viver?!