MEDO

 

A encruzilhada,

A poesia inacabada,

O viés,

O tempo soberano,

Os danos,

As marcas na tez,

Os pés cansados,

Do estranho traçado,

De tanto andarem...

E não chegarem,

Em nenhum lugar.

O olhar reticente,

As nuvens que embaçam,

As coisas que passam,

Repassam na mente,

Abalam a estrutura,

Do eu que não sabe ser eu,

Induzem à loucura,

Às rasuras, às rupturas,

Ao breu.

Os fragmentos da alma,

Os traumas,

O vento ao redor,

A sensação que ele me convida,

Para rejuvenescer,

Para conhecer outras paisagens,

Reluto, falta coragem,

Para enlouquecer,

Para me encontrar,

Ou me perder,

Nas entranhas da vida,

Na vida de desenredo,

Lentamente o medo me devora...

“Eu tenho medo e medo tá por fora,

O medo anda por dentro do teu coração...

Eu tenho medo de abrir a porta,

Que dá pro sertão da minha solidão...

Medo... medo... medo...

medo... medo... medo...”

Alma que não resiste – chora,

Com o harmônico teor de Belchior.