Dualidade

Viver em dualidade

Uma mentira, uma verdade

E para cada uma delas

Mais tantas outras.

Dois extremos que se chocam

Fundem, explodem

Se tornam tantos outros; explorem

Já que há infinidade por todos os lados.

Da mesma mão cansada que busca trabalho,

Dos panos completos formados por retalhos

Das cartas de vários naipes em seus baralhos,

Da calmaria sequencial ao estardalhaço.

Não apenas o vitral, mas também o estilhaço

O martelo, o homem e o braço

E toda a culpa que ele carrega.

Roupas feitas de traças,

Calçados de borracha que ainda escorregam

Óculos escuros a noite, e fechados de dia,

Olhos misteriosos que se entregam.

Um nariz empinado, enfiado debaixo da terra

Coveiros que ainda desenterram

Os mortos que nele ainda vivem.

A mesma vizinhança, em constante mudança

Estática em seus acenos matinais,

Que em outro lugar residem; outro planeta;

Noutra perspectiva dual; em outra instância

Buscando seu começo,

Encontrando seus finais.

Todos os dias a mesma noite

A mesma ferida curada pelo açoite

A mesma prospecção inicial:

Um bobo com duas cortes

Um certeiro golpe de sorte

E a sensação de que sou mais que duas partes

Que complementam o final.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 31/05/2023
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