Dualidade
Viver em dualidade
Uma mentira, uma verdade
E para cada uma delas
Mais tantas outras.
Dois extremos que se chocam
Fundem, explodem
Se tornam tantos outros; explorem
Já que há infinidade por todos os lados.
Da mesma mão cansada que busca trabalho,
Dos panos completos formados por retalhos
Das cartas de vários naipes em seus baralhos,
Da calmaria sequencial ao estardalhaço.
Não apenas o vitral, mas também o estilhaço
O martelo, o homem e o braço
E toda a culpa que ele carrega.
Roupas feitas de traças,
Calçados de borracha que ainda escorregam
Óculos escuros a noite, e fechados de dia,
Olhos misteriosos que se entregam.
Um nariz empinado, enfiado debaixo da terra
Coveiros que ainda desenterram
Os mortos que nele ainda vivem.
A mesma vizinhança, em constante mudança
Estática em seus acenos matinais,
Que em outro lugar residem; outro planeta;
Noutra perspectiva dual; em outra instância
Buscando seu começo,
Encontrando seus finais.
Todos os dias a mesma noite
A mesma ferida curada pelo açoite
A mesma prospecção inicial:
Um bobo com duas cortes
Um certeiro golpe de sorte
E a sensação de que sou mais que duas partes
Que complementam o final.