A busca
O tempo passou mais rápido do que imaginava
E agora vejo-me no meio de tantas tralhas
Buscando num agulheiro por uma palha;
Uma breve imagem que queima em minha mente.
Estática, sem cor, sem profundidade
Perdida no meio de algum ano de minha idade
Tangenciando as diferentes eras que eu vivi.
Uma pequena ideia, com suaves contornos
Que clama baixo pelo direito de falar
Uma flâmula, insignificante, trêmula
Que reage para cada instância do meu soprar
Seja cansaço, fumaça ou descaso,
Seja choramingo, seja afago
Seja atrito, seja pensado
Seja apenas algo, fixado,
Que eu consiga tocar.
Uma válvula de escape
Que eu consiga adentrar
E me perder em territórios conhecidos
Rever antigos inimigos
Que residem dentro de mim;
Rever amigos perdidos
Que se reencontram enfim;
Uma solução pacífica para uma guerra inexistente
Congratulações sem motivo aparente
Uma fábrica de lembranças perfeitas.
E uma dessa se aproxima
Calça minhas pernas, veste os meus braços
Se encaixa no meu peito e ajeita nossos olhos
E continua a se procurar
Nesta miríade de agulhas, palheiros
Tranqueiras e cinzeiros
Num mar de folhas, de vazios
De subidas e caídos
E ponteiros a rodar.