A DESERDADA
“A travessia do deserto”
Sim, és tu mesma ó Poesia
Aquela Diva respeitada,
Coração repleto de magia
E, agora, só e deserdada.
Já foste rainha imperatriz
E das palavras moradia,
Hoje abandonada e infeliz
És tudo, menos poesia.
As palavras, à tua roda,
Volteiam ao longe e ao perto
E dão tristeza à alma toda,
Qual travessia do deserto.
A tua lira trabalha em vão
Co´ as palavras sempre vazias,
Esmorecendo a tua paixão
Dão aos poetas mil arrelias.
Poetas? Onde estão os poetas,
Aqueles poetas d´ antigamente?
Quer por curvas ou linhas rectas
Ninguém os vê, ninguém os sente…
Poemas? Onde estão os poemas,
Aqueles poemas d´ encantamento?
Fracos discursos, fracos temas,
Poemas sem massa nem fermento.
Os versos? Onde estão os versos
Aqueles versos com sentido?
Tristes gestos, traços dispersos
De rosto mascarado e fingido.
Ó Poesia, quem te deserdou
Dos teus encantos e tua arte?
Quem ao teu canto e ritmo tirou,
As emoções que de ti eram parte?
Ó Musas, por onde é que andais
E onde pára a vossa inspiração?
Será que no Parnaso não morais?
Onde é, pois, a vossa habitação?
Poesia, és deserdada ou desvalida?
Onde estão os teus combatentes,
Aqueles combatentes cuja vida
Era forte em todas as frentes?
Frassino Machado
In “Corações Ansiosos”