memórias antropofágicas de quem nunca viu o sol
acordar de madrugada. dormir cedo.
ver as estrelas andando ao meu lado
em cada esquina cruzada. em cada rua
atravessada.
um bêbado acende um cigarro numa
churrasqueira
enquanto sua cerveja não chega.
o suor desce de minha testa e atendo ligações
que nunca esperei.
como prosseguir nessa imaterialidade?
ouço o barulho do chuveiro.
acordar depois da janta. dormir cedo.
ver as estrelas cruzando ao meu lado
em cada esquina parada. em cada rua
solitária.
vencer na vida sem viver a vitória.
e cada manhã é um pretérito-mais-que-perfeito.
e cada noite é renovada aos orgasmos antes de
dormir. ao suor antes de sonhar.
como sumir nessa imaginação?
a água está quente.
acordar cedo depois de dormir de madrugada.
ver cada esquina cruzada pelas estrelas
atravessando a solidão que anda ao meu lado.
ó meu deus. . .
eu ainda estou vivo!
ó meu deus. . .
há uma cabeça presa em mim e eu estou nela!
ó meu deus. . .
como alguém CONSEGUE fazer ISSO consigo
mesmo?
que horror. . .
eu devorei minha carne,
eu me alimentei de dentro pra fora,
e me surpreendi com a tristeza
quando encarei meu rosto no espelho.
eu tentei esquecer de tudo,
mas guardei a dor.