Cru
Tomado por circunstâncias adversas
E nutrido por expectativas que já não sei se são corretas
Encontro-me num momento passageiro
Onde uma forte angústia me consome.
É questão de segundos. Em raras ocasiões tornam-se minutos.
Mas me rasga ao meio em tão pouco tempo.
Uma amostra da definição mais vil do inferno
Que me consome e me faz sentir parte dele.
Algo interno. Quem vê de fora não percebe
Não faz ideia do que acontece comigo.
De como eu me mato e me castigo
E como desejo que estas fossem reais.
Cai o meu filtro, perco noção do real
Viajo em desilusão total
E aterrisso bem longe do meu território;
Do meu normal.
E quanto mais olhamos para o abismo
Mais ela olha para você
Eu posso confirmar, e dou meu parecer
Quanto mais eu despendo este tempo
Mais eu desejo que esse tempo perdure
Quando sumo em minha própria carne
Quando não há luz que me cure
Quando tudo em minha volta não existe
E sinto apenas a pressão do meu escárnio me esmagando
Quando parece que eu me afino tanto
Que torno-me líquido
Pronto para ser drenado
Diretamente pelo esgoto
Sentindo o gosto
De cada erro
De cada dúvida
De cada acerto.
Acerto?
Quando?
Erro tanto que já nem sei
Se houve algum dia que acertei
Nas palavras, nas atitudes
Na vida.
Eu ando correto? Eu respiro do jeito certo?
Eu desempenho as funções mais básicas do ser humano da forma que se espera?
Esperam algo? Ou eu questiono tanto?
O faço pois sou curioso, chato, ou ignorante?
Porque eu me odeio? O que eu me fiz?
O que eu te fiz?
O que me fizeram.
De fato fizeram? Ou eu apenas acredito que sim?
Existe alguma forma de saber se realmente é assim?
E quando estou apenas existindo
Sem almejar mal algum
E mesmo assim eu erro
Sem conhecimento nenhum?
Como arrumar algo que eu nem quis fazer,
Como tornar-me alguém que não fui feito para ser?
Como ser?
Porque ser?
É preciso ser?
Posso escolher?
E este estalo me acorda.
Retiro a corda do meu pescoço.
Respiro fundo, abro os olhos.
Vejo no relógio que a rotina vai começar.
Mas já começou.