Prisão
Não sou somente o que se observa
Como se entregasse toda e qualquer ficha num ataque de olhar;
Sou também o que não é dito
Seja por medo de repesálias
Ou por, a essa altura
Até mesmo flertar um tanto com a loucura
Que por vezes parece a única coisa que consigo destilar.
Mas não somente esta me escorre
Como se me encharcasse de devaneios no primeiro despencar;
Sou também a completa razão
A síntese da sapiência que rege nossa dimensão
Não apenas o sim, mas também talvez o não
E qualquer rastro de permissão
Que minha mente fabricar.
Mas não mergulhei em mim por completo
Como se me jogasse no primeiro espelho que me esticasse a mão;
Sou também o ponto que se interroga
Procurando pela falácia da minha exclamação.
Seguindo minha própria sombra
Questionando sempre minha motivação.
Não sou somente o que se observa
Porque costumeiramente não há nada para ser observado.
Apenas mais um, falante ou calado
Que lida com a própria desilusão.
Uma infinidade limitada
Descontente com sua prisão.