À procura de um lar
Os ventos uivam como lobos famintos,
E o frio rasga com a navalha minha carcaça,
Enquanto caminha e grita meu ser extinto
Em um labirinto de dúvidas e desgraças.
Caminho pela escuridão que me envolve,
E sinto a angústia em meu peito crescer.
Sou como o anu-preto que busca uma luz,
Mas só encontro o vale vazio do esquecer.
O funeral da vida em meu ser se arrasta,
Sem chão e sem luz, sem rumo vaga o mundo;
A alma perdida em sombras, a escuridão vasta
Que consome meu corpo, deixando-me imundo.
E assim caminho pela terra seca e solitária,
Onde o vento sussurra tristezas ao ouvido,
E as folhas secas crepitam uma triste ária,
E a paz e a alegria são velhos amigos olvidos.
As lágrimas inundam meu rosto pálido,
E o medo invade minha alma desolada.
Sinto-me condenado a este fado inválido:
Sem amor, sem esperança, sem vida, nada!
Mas ainda ando nesta noite tão nebulosa,
Enquanto meu ser sofre e chora em agonia,
E sinto queimar-me esta alma fria e dolorosa,
E a morte me parece tão sem sentido e vazia.
Um verme sou, um ser repugnante,
Que vive na lama e na escuridão,
E que espera a hora fulgurante
De ser levado para a decomposição.
Ainda assim, sinto em mim um fogo ardente,
Que consome meu ser em delírio e paixão,
E que me faz desejar esta vida decadente,
E as coisas desconexas desta imensa criação.
Ó alma inquieta e desesperada,
Que busca em vão a felicidade:
Tu és feita de dor e de saudade,
E não conheces a paz tão desejada.
Ó vida triste, entediante e funesta!
Vinde e me abraça com tua melancolia,
És como um veneno que me empestas
E me conduzes a esta algoz agonia.
Ó vida efêmera, linda, disforme e passageira!
Que nos faz sofrer e nos ensina a tanto chorar;
Não sei se na vida há apenas sujeiras e canseiras,
Mas sigo à procura obscura de um amor, um lar!