Marrenta filha
Desculpa por achar as vezes
Que eu tô carregando uma cruz
Pagando em séculos e não meses
Num caminho longo de pouca luz
Desculpa por me sentir no inferno
Acumular lágrimas atrás do olhar
Maltratar o mancebo e até o velho
Bater a bolsa antes de me sentar
Desculpa por respirar tão fundo
Soltar o ar enquanto ranjo os dentes
Cravas as unhas no meu próprio punho
Esconder o rosto com as bochechas quentes
Desculpa por rosnar para cadela
Esquecer a louça e o quintal
Erguer o volume para toda favela
Exagerar no açúcar e depois no sal
Desculpa por esfregar na cara
Essa abstinência de ansiolíticos
Enfatizar que não uso nada
Me orgulhar de conseguir os mínimos
Desculpa o "triste e cansada"
Desculpa implorar mais um dia
Desculpa assumir ser tão fraca
Desculpa Deus tua marrenta filha.