o presente do descanso

bolhas e calos e pedras no vômito

e sangue na urina e o sonho na noite

anterior

me acordou suado

com o coração querendo ser ouvido

falando mais alto que as outras vozes;

falando mais alto que as vozes

que atrapalham meu raciocínio

quando lavo a louça

quando atravesso a rua

quando limpo minha bunda;

o coração gritando às duas da manhã

me pedindo para abrir meus olhos

e escrever mais um poema

sobre os verbos que me dão olheiras

sobre os verbos que me machucam

sobre os verbos que me cansam

sobre os verbos

ao decorrer do dia

que ando que ando que ando

em círculos

em triângulos

em quadrados

em formas geométricas inconstantes

como a arte que cega ao ser pintada

como a música que ensurdece ao ser

desligada

como a porta que o vento fecha

como a chuva que entra pela janela

sem ser convidada

e sem saber sair pelo ralo

até os olhos se arrastarem

à próxima dor

e o show que a vida anuncia

e o show que deve continuar.

Cleber Junior
Enviado por Cleber Junior em 10/02/2023
Código do texto: T7715945
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