o presente do descanso
bolhas e calos e pedras no vômito
e sangue na urina e o sonho na noite
anterior
me acordou suado
com o coração querendo ser ouvido
falando mais alto que as outras vozes;
falando mais alto que as vozes
que atrapalham meu raciocínio
quando lavo a louça
quando atravesso a rua
quando limpo minha bunda;
o coração gritando às duas da manhã
me pedindo para abrir meus olhos
e escrever mais um poema
sobre os verbos que me dão olheiras
sobre os verbos que me machucam
sobre os verbos que me cansam
sobre os verbos
ao decorrer do dia
que ando que ando que ando
em círculos
em triângulos
em quadrados
em formas geométricas inconstantes
como a arte que cega ao ser pintada
como a música que ensurdece ao ser
desligada
como a porta que o vento fecha
como a chuva que entra pela janela
sem ser convidada
e sem saber sair pelo ralo
até os olhos se arrastarem
à próxima dor
e o show que a vida anuncia
e o show que deve continuar.