Meu fantasma
Como um fantasma, eu vi
translúcida, sombria, gelada
arrastava o andar, totalmente calada
vindo de lugar nenhum,
indo para o nada
eu a vi, mas esta sequer me notou
seus olhos miravam o céu la fora
como se vissem através do teto
através do medo, e das memórias de outrora
como um fantasma, eu vou
de minha morte, não há memórias
mas muitas marcas, que doem so de olhar
elas quase conseguem me fazer lembrar
a última vez que o céu estava tão escuro
era verão, de certo, o calor acusa...
e uma cacofonia se forma na escuridão
as minhas memórias gritam,
as minhas feridas sangram,
as paredes sussurram,
lágrimas caem,
até que
nada
mais
há.
e como um fantasma, eu vivo
eu morro, eu caio e eu choro
me esqueço,
então me lembro porque esqueci
mesmo sem sair do lugar, me perdi
não no novo e desconhecido
mas no velho e familiar chamado
partido e estraçalhado
em vários pedaços de passado
manchado, abafado pelo pavor
pelas súplicas chorosas, incessantes
que dividem espaço com a dor
eu só queria me esquecer
eu só queria não voltar
jamais rever essa amargura
a sensação de ainda estar lá
que, como um fantasma, me assombra
como um fanstasma, me persegue
como um fantasma, me apavora
me consome, me inflama, me devora...
E antes de eu notar,
o sol já vinha nascendo
meu peito pede trégua
o mundo inteiro está tremendo
mas o dia é só um respiro
não destrói nenhuma sombra
só a faz se recolher,
e adia em outro ciclo
o que quer que haja aqui.