Solidário a solitária

Com uma caixa de sapatos,

usada como caixão,

tive de dar o último relato

de devotamento e emoção.

Pois se Drummond teve

alguém que viveu só meia hora

e Augusto um feto que nem vivo fora,

dizem que é pelo karma que se deve.

O comentário geral que se tece

não me ajuda, sequer consola,

de ter enterrado com pressa e sem prece

um felino tão filhote feito Frajola

Pois pergunto qual é o karma

que pôde ter um gato filhote,

cujo único “crime” foi o de dar botes

de surpresa em dedos com presas sem arma?

Não sei se por excesso de raiva, desesperança

ou se por completa falta de paciência e paz,

mas cheguei a perguntar como as crianças:

“Deus sabe mesmo o que faz?”

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 20/01/2023
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