Solidário a solitária
Com uma caixa de sapatos,
usada como caixão,
tive de dar o último relato
de devotamento e emoção.
Pois se Drummond teve
alguém que viveu só meia hora
e Augusto um feto que nem vivo fora,
dizem que é pelo karma que se deve.
O comentário geral que se tece
não me ajuda, sequer consola,
de ter enterrado com pressa e sem prece
um felino tão filhote feito Frajola
Pois pergunto qual é o karma
que pôde ter um gato filhote,
cujo único “crime” foi o de dar botes
de surpresa em dedos com presas sem arma?
Não sei se por excesso de raiva, desesperança
ou se por completa falta de paciência e paz,
mas cheguei a perguntar como as crianças:
“Deus sabe mesmo o que faz?”