Escassez

A cabeça enrosca, dá um nó

Já não lembro se minhas lembranças são reais

Ou se foi tudo criado, servido, inventado

Neste jantar de 3 atos, de tantos pratos

Finjo apetite, paladar refinado

Na falta de etiqueta, me sobra tato

Percebo ironia em sintonia com a moralidade

Degusto o sangue fervido, engasgado

Nada demais, já acostumado, rumino verdades

Dias escuros, olhos vermelhos, insônia diurna

Eclipse solar, calendário lunar, inebriante

Suprimido ar desajustado, de ressaca miúda

A escassez que transborda em meus braços

É a mesma que ajeito, deixo de lado no prato

Me faltam palavras, me sobra sanidade

Na ausência de amor próprio

Me agarro à migalhas, olhares alheios

Fervilho ao efeito do álcool, peito inerte, sóbrio

Ao fim do jantar, me despeço, agradeço o convite

Regresso ao lar, meio despido, meio rebite

Desnudo no corredor, conduzo o corpo, e asilo a alma.

Flavio Marcondes
Enviado por Flavio Marcondes em 06/01/2023
Reeditado em 06/01/2023
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