NEM MESMO A PRIMAVERA
Que me dera a primavera,
Fosse somente flores,
Encontro de esplendores,
Amores compartilhados,
Voos renovados,
Leve atmosfera.
Quem me dera a quimera,
Envolvesse a realidade,
Com lúdica pluralidade,
Me fizesse reencontrar a menina,
Perdida no tempo, na sina,
Na cena que o cinza apodera.
Quem me dera a poesia sidérea,
Se derramasse sobre mim,
O amor verdadeiro dissesse sim,
Para o meu coração fragmentado,
Um jardim encantado,
Estivesse à minha espera.
Quem me dera essa cratera,
Aberta ante a minha imagem,
Fosse apenas uma miragem,
Não é; inevitável é a queda,
Angústia que não se arreda,
Atinge a alma, dilacera.
Quem me dera minhas escleras,
Fossem envolvidas pela loucura,
Eu perdesse a compostura,
Pelo menos uma vez,
Quem sabe no meado do mês,
Estranhamente, a lucidez impera.
Quem me dera o blue Riviera,
Som de Sá e Guarabira,
Substituísse essa triste lira,
Talvez, eu não me sentisse vazia,
Distante do radiante dia,
Talvez, a vida nãos fosse tão mera.
E quem me dera a esperança fosse vera,
Mas, em matéria de esperança,
Não vislumbro qualquer nuança,
Não tem primavera que me faça crer,
Que o melhor vai acontecer,
Reverdecer a minha (h)era.