DESATINO

Quero ser igual à diferença, ser a fé da descrença

Quero a cor do invisível, o edifício sem andares

Quero a doçura do amargo, quero a derrota que me vença

Quero ser o chão do alto céu, quero ser o deserto nos mares!

Quero ser o fogo que congela, o barco que navega sem vela

Quero ser o ódio do amor, a bala que alveja para doar vida

Quero ser a consciência da loucura, as trancas que não fecham a janela

Quero ser o dueto solitário, a liberdade que escraviza!

Quero ser o réu que não se julga, a lágrima que não enxuga

Quero ser a fome sem comida, ser a gestação sem barriga

Quero ser a estiagem que afoga, ser a falta d'água na chuva

Quero ser a palavra sem letra, a elucidação que só intriga!

Quero ser o herói de meu fracasso, a energia de meu cansaço

Quero ser a bravura de meu medo, ser o todo de meu nada

Quero ser o tapa que me beija, quero ser a perda onde me acho

Quero ser um monte esvaziado, o descontrole que me acalma!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 03/12/2007
Reeditado em 03/01/2012
Código do texto: T763278
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