O homem por trás do nariz vermelho.
Já perdi a conta de quantos cigarros fumei , de quantas vezes com um suspiro profundo suprimi o pranto que tenta sair.
Já não sei a densidade dessa dor na cabeça repleta de ideias confusas, angústia, medo, desespero.
No prédio todos os apartamentos estão vazios, assim como vazio está meu peito, mas dentre essas paredes vazias resta apenas um – eu. Dentro do meu coração resta algo que fere de dentro pra fora como se um corvo estivesse estraçalhando-o querendo sair.
A noite finalmente está como eu gosto, sem o ruído de passos acima, sem o barulho irritante da tv do vizinho que me distrai. Mas com esse silêncio posso ouvir o grasnar do corvo que me rasga.
Um anjo de asas negras pousa sobre os meus ombros, causando-me incômodo. De repente alça voo levando-me consigo pra voar sobre um abismo.
Eu choro, grito, ninguém me ouve, assim como eu sempre quis antes, mas hoje queria que alguém escutasse meus gritos. Queria que alguém me reconhecesse, soubesse quem sou.
Eu danço, imito, faço piadas das idiotices cotidianas. Eu imito a miséria de mim mesmo, imito. Alguém sabe quem eu sou?
Esta felicidade que às vezes finjo esboçar não passa de encenação pra fazer a plateia sorrir. Quando saio do picadeiro, as cortinas se fecham atrás de mim e quando chego no meu camarim, sou o homem triste que por trás da maquiagem de palhaço esconde sua dor para ver os outros feliz.
Roberto Codax
31/12/2015
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