Pórtico do Amor

É tão, mas tão difícil

ficar acendendo lampiões

que os outros

mergulham na água para apagar...

 

É tão complicado sonhar

e desenhar esses sonhos

por eternidades numa tela da vida

e um dia chegar diante

do quadro na parede

e perceber que de ti

restaram só fiapos...

 

um velho chapéu

abandonado num canto

que eu amava usar...

um par de botas peludas

que eu gostava de com elas

os pés esquentar, aconchegar...

 

um Pórtico de Amor

que eu abria todo dia

com minha própria chave...

 

Uma frondosa árvore

que me abrigava

dos pássaros invasores

e dos estrangeiros

que na minha pobr

e choupana queriam entrar...

 

Até minhas bolinhas de gude

que eu gostava de brincar me tomaram...

Nada ficou...

Talvez...

ainda se possa ver

um risco de parafina,

uma tirinha de um céu de vintém...

um calor que nunca foi meu...

uma romana que desapareceu...

foi embora

dando patadas

no mundo ao redor...

 

Agora é só faina e dor...

Limeiras nem dão mais frutos...

Morada dos Tristes,

é o que ficou...