Pétulas Que Caem

A estranheza do silêncio

deste triste amanhecer

me ronda tal qual pétulas

que caem ao sopé

das árvores desfolhadas

pelas serras da vida.

Uma a uma descem

o morro da esperança.

Não as ajunto mais.

Deixai-as lá.

São memórias das novas dores

que no círculo de ouro do jardim

se fincaram sem dó e com crueldade.

Vejo um rio - que é o próprio sol -

seguindo-as enquanto rolam ao meu redor,

como fossem e trouxessem o retorno

ao espaço do nosso tempo.

Mas não é não.

O sol está calado e não chega

para iluminar sua estrela de luz.

Então, o que resta ao triste

cheio de erros e acertos

e todo queimado jardim?

O que resta?

"Deixai o rio seguir livremente o seu curso,

carregando a felicidade em suas águas"

como bem disse um poeta

que por este canteiro passou.

Um dia suas águas se cansam

de pelas terras alheias de criança brincar

e voltam ao oceano, as águas

azuis as quais pertencem.

Acolho o adeus que o mundo me dá.

Devolvo em amor a dor causada.

Que só este viva a perenidade dos dias

e se perpetue na eternidade.