Meu silêncio
Aqui, ouvindo meu silêncio
Percebo que permiti tirarem-me o chão dos pés
Permiti ensurdecerem-me os ouvidos
E a imagem tiraram dos meus olhos
Percebo meus joelhos cansados
Ainda que tenha ido a lugar algum
Percebo minhas mãos suadas
Por mais que ninguém as segure decididamente agora
Vejo que meu peito respira
Uma vez que foi ensinado a respirar
Como que por mania
Que seja por agonia
Como quem tenta ressuscitar
Olho atentamente
Milímetro por milímetro
Tentando encontrar o réu
Buscando entender quem devo culpar
E chorando, acuado, no canto,
Me Percebo
Um ser quase caído
Um tanto quanto perdido
Me desculpo timidamente
Tal qual criança que confessa ter comido biscoitos no jantar
Ah, como queria poder jantar
Vítima e culpada
Golpista enganada
Devoro-me por saber que a pena me pertence
E que o juiz também sou eu.