JÁ NÃO AMANHECEM MINHAS PALAVRAS
A derradeira esperança
morta, estendida na praia,
tão calma em seu silêncio eterno,
tanta força nos braços,
cortando sem tréguas
as águas da adversidade...
A última esperança morta está
e com ela cessa também
a vontade de ir em frente,
morre com ela o encanto,
o sonho, o êxtase
de momentos construídos
em suave movimento de mãos...
E o que fazer com os vestígios
que restam por todos os cantos
a não ser chorar sobre sua
silenciosa apatia?
E o que fazer dos dias e noites
sem sinais?
Se já soubera sempre que
tal hora se aprontava, crescia
sorrateira nos descuidados
instantes de felicidade,
espreitava sem pressa,
fatalidade presumida,
mesmo assim fiz-me cega
e entreguei o melhor de mim
atenta ao menor sinal
de tua presença.
A última esperança
resta estendida
na areia daquela praia,
onde morrem os sonhos,
onde se despetalam as flores
sob ventos de flagelo!
Sentir no peito o abismo
dessa dor de toda impossibilidade,
chibata ferindo as costas,
mãos atadas, brasas sob os pés,
é saber que há muito teu barco partiu,
fechando esta brecha do tempo
a sete chaves de desconhecimento !