POEMA DO DITO PATRÃO (EM COMBUSTÃO)
Há coisas que não têm explicação:
Por quê é que, sendo eu o patrão,
Vivo de migalhas, de grão em grão,
Sobrevivo às navalhas no meu coração,
Vejo mortalhas em toda a direção
Prevejo falhas planificadss com precisão,
Ando empoeirado, se arrastando pelo chão,
Pranto empoleirado, bem vazia a minha mão.
Há coisas que não têm explicação:
Por quê é que, sendo eu o patrão,
Sou fruto da frieza e da exploração,
Produto do abandono de quem jurou paixão,
Só é certa a incerteza, a morte e o caixão.
Tudo cheira a mofo, a fornalha, a combustão. . .
O Cabo em chamas, o Centro é Paquistão,
O futuro é incerto, alegria é só quinhão,
Desiquilibrio na balança, injustiça na equação,
Delírio, matança. . . Preguiça e desilusão,
O lírio é criança murchando sem pão!
Há coisas que não tem explicação:
Por quê é que, sendo eu o patrão,
Tenho Liberdade vigiada, que é uma prisão,
Migalhas mensais a que chamam de pensão,
. . . Promessa adiada, que já virou canção. . .
Não importa a fome de Joaquim, Jorge ou João,
Só há pressa na eleição, leilão e usurpação. . .
Quando digo eu, digo todos: — A população,
Essa sociedade assassinada, latindo como cão:
Direitos desfeitos, sem Saúde nem Educação. . .
Igrejas autorizadas a vender a Salvação,
Cervejas geladas, embriaguez, perdição,
Bondade simulada do multicolor camaleão,
Verdade assustada. . . Silêncio e escuridão. . .
Hipocrisia na cara do crocodilo chorão. . .
No leão vegetariano não acredito, eu não!
Estou nas calmas. . . Calmíssimo, meu irmão,
Mas não queiram acordar este feio leão,
Este dragão faminto, para uma Nova Revolução. . .
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