Obsessão por plástico
As pessoas feitas de plástico passam pela minha rua
é uma loucura, eu saio, vejo-as
passando, lindamente
e elas cantam, conversam
sorriem e elogiam-se mutuamente
enquanto bebem algo que deve ser feito de polímero.
As gordas vão ficando cada vez mais gordas
e elas devoram PARTE DA REALIDADE também
e as pessoas de plástico as veem e acham lindo.
as gordas devoram tudo
e os homens de plástico sorriem e comem-nas
e elas gozam e as outras mulheres de plástico ficam putas
mas sorriem também.
Eu sorrio
meus lábios ficam duros
e percebo que não são só os meus dentes
vou tornando-me duro, de plástico, como os outros
e quanto mais me misturo entre eles
desaprendo de mim mesmo a ponto de esquecer-me completamente.
Quando a metamorfose se completa
é perigoso o camarada ficar retardado mental,
se tornar um action-figure para sempre
Jesus, Argh!
Uma luz cai sobre mim, recolhe-me.
introspectivo
reflito sobre as pessoas de plástico e fico insatisfeito
minha reflexão é boa mas ainda imprecisa
porque eu me apaixonei por elas
porque eu reguei, longamente
anos a fio
flores que não cresciam
plantas que não morriam
e cores que não desbotavam
porque tudo era feito de plástico
e só eu era real
e quando eu, me abri por inteiro
e deixei aquelas figuras entrarem e mim
percebi que um corpo feito de carne
espeta-se entre aquele plástico duro e insensível
e que isso dói para sempre...
Eu, o único homem de carne
que, quando ferido, jorra sangue como uma baleia espirra água,
que sofre e diz coisas boas
de vez em quando
eu não cabia ali.
E, agora, inseguro e aflito
Não há como sair de mim
enquanto as pessoas me convidam e bendizem
e eu as amo profundamente.
Eu amo o plástico
não amo a mim.
que sei, na verdade,
que tudo isso é uma ilusão.
Amém.