ENLUTADOS
Quando chega os dias de inverno
E o sol não pode aquecer meu coração
O mar e suas procelas congelam em meu peito vazio
Em sua amplidão caberia todo infinito que há
Onde a saudade transborda como os gêiseres de yelowstone
Então, as interrogações exclamam em alta voz
Como os ventos gélidos dos polos
Pelo poros escapam meus gritos
Que os ossos não podem conter
Em poucos segundos se passam tanto tempo que mal posso contá-los
Dez eternos sem você
Os anos vão se perdendo no tempo
Então, percebo em horizonte distante essa distopia esmagando meu peito nú
Inclino meu corpo na areia branca
Deito minha cabeça que mergulha no céu
Nesse entardecer, o céu parece tão próximo
Logo as estrelas estarão esmagando meu peito sombrio
O ar parece faltar nos pulmões
Os braços pendem para o infinito
E em absoluto silêncio grito
Não sei o que sou nessa condição anômala
Talvez seja mesmo inominável
A morte seria a cura docemente aceitável
As sinapses queimam como em sobrecarga no sistema frágil
Do meu córtex descem lavas incandescentes
De tal fluidez, sinto gosto da salinidade em minha língua
Amarga tanto quanto peculiar
Dor voraz e insaciávelmente atroz
Então as compartilho com a solidão dos enlutados
Com a solidão dos enlutados…
Com a solidão dos enlutados…
Com a solidão dos enlutados…
Em memória do meu filho Jay.
Em memória de todos os filhos que foram antes dos seus pais.
Rio, 05/07/2022