Não gosto que me olhem nos olhos
Não gosto que me olhem nos olhos,
Pois dói o que poderiam visualizar,
Um bando de corvos,
Uma colina a beira mar.
Quais segredos cabem numa lápide,
Quão grande são as mentiras sobre os sorrisos,
Transborda tanto esse cálice,
Estão presentes os suspiros.
Poderia refletir a luz do sol,
Ou o claro do luar,
É possível cheiro de formol,
Uma lágrima linear.
Não sei se não negros,
Ou então castanhos,
Mal me olho,
Eu me imploro.
Ser ouvido sem gritar,
Ser respeitado sem temer,
Temer que vejam uivar,
Viver sem querer morrer.
Não gosto que conectem a minh’alma,
Nunca vou ter calma,
São armas póstumas,
Presentes na guerra de meu interior.
Quando olha eu meus olhos,
Não vejo a mim mesmo,
Seria pela minha falta de reflexão,
Ou a sua falta de compaixão.
De existir ou deixar de ser,
Do esboço ou borra de café,
Estar de pé, te ver,
Permaneço vivo apenas em fé.
Quando me olha nos olhos,
Vejo um mar límpido,
São os seus portfólios,
Às vezes me pego sorrindo.
Quando tenho coragem de lhe ver,
E folear os resquícios de sua alma,
Nunca irei retroceder,
A fazer isso com calma.
É como um arrepio,
Ao tocar os olhos de alguém,
As janelas das almas sentem calafrios,
E o frio que entra, não aquece meu coração.
Quando olho nos seus olhos,
Vejo dança, vejo baile,
Mas é uma língua que não entendo,
Falas braile.
As horas passam,
Mas o ponteiro não se mexe,
Segundos matam,
Não me pede.
Não gosto que me dirijam o olhar,
Nunca vou gostar,
Não quero que vejam nada,
Não quero que sejam nada.
Hoje foi o último dia que gritei,
Pois amanhã a fera terá morrido,
Ainda continuo sendo rei,
Que no silêncio está envolvido.
Cansei de ser o único a ser perdoado,
Nem me dado chance para perdoar,
Pois suas transgressões também existem,
E a paciência está a se esgotar.