Verborragia

É nos confins das mentes silenciosas

Que adormecem os verbos pungentes

Inflamados por salivas raivosas

São ricos em sentimentos latentes

Os sons que os ouvidos guardam

Reverberam pelos séculos encerrados

Emergem em meio a noites nubladas

E transbordam nos travesseiros

As noites longínquas agonizam em meio às luzes oscilantes da lua cheia

Solitária e flutuante

Despede-se no raiar do dia enquanto deixa seus apaixonados carentes

No embalar da melancolia

Em meio aos minutos escorridos

Com a cabeça latejando o vácuo

O grito se torna inaudível

O peito refreia todas aquelas emoções

Adormecidas

Mas os ouvidos inocentes

Não possuem proteção contra os sentimentos penetrados

E no epílogo do corpo

Eles são apenas a porta de entrada das emoções

Não são eles que sentem

Os sons são carregados pelas veias que os levam até o coração

Esse quieto e dormente

Sente mesmo com sua derme grossa

Roupa que o veste

E sua clava de ossos na frente

Sua eclosão se dá para o corpo inteiro

Da ponta dos dedos

Percorrendo pela pele

Passa pelo rosto

Chega até a cabeça

Assim seus circuitos são acionados

Suas sinapses erram os trajetos corriqueiros

Uma tropa de pensamentos de berço

Voltam a sibilar raivosas na mente

As letras liquidificam-se

Perdem-se entre as vísceras

Preenchem os espaços

Até não mais caber e sair pelas chuvas torrenciais do corpo

A alma não escuta, não fala,

Pois quem sente é a carne

Que se desmancha em gotas pela face

Quando as palavras perversas,

Deveras diretas, a fazem pingar.