Aquele que ama um Poeta

Você disse que me amava

E então disse que gosta de me ver sangrar,

Abrir os pulsos e esparramá-los numa página inocente

Você olhou nos meus olhos sorrindo

E chamou minha dor de arte

E eu estaria mentindo se dissesse que não penso a mesma coisa

Porque eu me apaixonaria por todas as pessoas erradas

Com todos os seus sorrisos certos

E passaria tardes inteiras ouvindo minhas músicas tristes favoritas

E beberia todas as garrafas de vinho do bar

Fingindo conversas com Casimiro de Abreu

Logo antes de ele morrer de tuberculose

Apenas para não perder esse brilho sombrio

Que acende a poesia

Eu partiria meu coração inúmeras vezes

Em inúmeros ângulos, para achar novos versos

Choraria todas as lágrimas que refletem belezas

De um jeito que até hoje sorriso nenhum conseguiu

Porque ser poeta é essa contradição

De encontrar fascínio nas coisas mais sombrias

De organizar em versos o caos mais absurdo

E de não esperar nada da alegria

Porque a alegria não precisa do poeta para ser bela

E aquele que ama um poeta

Aquele que ama um poeta precisa

No fundo do seu coração entender

Que se existe um poeta feliz

Já não existe um belo poema

Aquele que ama um poeta

Às vezes precisa deixar o poeta sofrer