Lado Branco
Quando tristeza é evidente tal impinge
Nem o melhor ator finge…
Que tudo está bem.
É aquele nó na faringe,
Os moderninhos acham cringe…
Os antigos "nhenhenhém".
Acordei com o pé esquerdo,
Ainda é cedo, muito, muito cedo…
Mas um pouco tarde para o sonho.
Meu otimismo, quem roubou?
"Temporada no Inferno", tal Rimbaud
Sem prece, pressa, só presuponho.
Quero leite azedo no meu Corn Flakes.
Sem zen budismo nem Reiki,
No barril de carvalho meu ódio curte,
As lágrimas borram minha make,
Melancólico trompete de Chet Baker
Sei que, sombrio feito Ian Curtis.
Ponta de esperança? Nem da caneta
Sou tipo um analfabeto ou maneta,
Qualquer coisa, menos menestrel.
A cor é fosca, o som é mono,
Mano! Ano a ano no ônus…
Enquanto o ânus limpam no papel.
Sei, foi em vão todo o meu trabalho,
Teci tantas colchas de retalho…
Mas meu corpo ainda sem abrigo.
Minha alma foi dilacerada em fatias,
Agora vou mudar da minha periferia..
Para o centro do meu umbigo.
É Maquiavel, me fingi de morto!
Mas o resultado foi outro…
Pois os meus inimigos são urubus.
No acostamento feito um cachorro,
Minha Rainha agonizou sem socorro
Desdenhada por Deus e pelo SUS
Como se eu fosse meu pai, sumi!
Mas se alguém me vir por aí…
Peço, por favor não me avise!
No sarcófago, corpo envolto em gaze,
Não sei se sou agudo ou crase…
Tô crazy, tô em crise.
Oh, garçom! Dê-me doutrinas convenientes,
Um deus que seja conivente…
Com a rebeldia da criança levada.
Quero crer noutra verdade absoluta
Ainda que ela seja uma puta….
Uma puta mentira deslavada.
Céu sem camada de ozônio!
A radiação dos meus demônios…
(Inclemente) fritam minha derme.
Sou um ser humano péssimo,
Meu "lado branco", Não sabe um décimo
Mas posso ver-me como verme.
Duas, três, não é a primeira vez que me suicido.
Tem sido assíduo…
Cortes profundos em meu pulso.
O lirismo vive só, como peixe Betta,
Sou fechado, veia poética aberta,
Agonizando, eis meu último soluço.