Oxidação umbilical

O suspiro que me leva ao delírio sente a casa vazia.

Minha face vazia, perdida...

Minha rua vazia

Minha alma vazia.

Vazia de casa e moradia.

Mas logo tudo se explica, de boca a boca...

Não sei se isso é bom.

Mas é o caminho do perigo.

Eu, tu, tu e eu...

Nosso umbigo! Cortado!

Não sei se isso é bom.

Mas todo amor é amigo do perigo...

A turva curva de uma escura tarde escura me flecha.

Como uma tarde turva, em curva e escura.

Tento correr e apesar da pressa, vejo tudo lentamente.

Afinal, é uma curva.

Como uma dor que se costura em sí-la-bas...

E assim cada letra morta chega em cada linha pela dor, e não pelas palavras turvas.

Tampouco pelas curvas das palavras.

E numa medida sem medida escreve os retalhos de uma existência desencontrada...

Enquanto queimo o passado e o medo numa panela fria, escuto a infância em chamas.

Chamas, em mim, tbm!

Arde, é fogo! Arde assim como uma tarde escura.

Penso na minha próxima versão...

E esqueço, novamente, da tarde escura, do fogo, do medo e das queimaduras...

A fria tarde fria, escurece tbm

a mais iluminada árvore da rua.

Como um colo frio, num lugar frio, partindo o frio da alma na escuridão de uma tarde já desbotada.

Castigo para dois. Crime para dez!

É tudo novo. De novo! De novo?

De novo.

Tribunal do nada!

Nada ainda, ainda nada.

Nada mais!

Nada palpável, nada senão a morte das horas e a escuridão da tarde escura...

Ricardo Leal (Ponta de Diamante)
Enviado por Ricardo Leal (Ponta de Diamante) em 16/05/2022
Reeditado em 23/05/2022
Código do texto: T7517087
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