Corvos

Entre as noites nubladas e os ventos gélidos, se olhar de forma mais discreta, perceberá ao centro de toda ruína o meu ser em forma de espectro. Assombrado pelo desejo de ser, consumido pelas inconstâncias do meu medo de perder. Sempre magro, não tão alto, acompanhado de simples vestimentas góticas. Comigo, além da frustração e rancor do amor, carrego um caderno com frases, poemas e obras que descrevem minha dor.

As marcas do meu rosto já não dizem mais nada sobre o castigo, mas sim sobre a resistência. De estar, e permanecer inteiramente só. Não é escolha, mas sim condição.

Os corvos que rodeiam o meu espírito tornaram-se meus fiéis amigos. Avisam-me quando pela frente vou encontrar solidão em forma de beleza. Já as ratazanas e sanguessugas lambem minhas botas, enquanto desejam minha essência. Além de consumirem tempo e estima, veneram minha paciência. Infames!

Neste mundo não sucumbo aos desejos e suas insignificâncias. Sei que não tenho lá essa importância, mas faço o que faço pelo simples fato de querer, não para impressionar. Sei que essa culpa não devo, e nem vou carregar. Bastam os fardos da minha "espinha" e as decepções de minha mente. Farei da solidão uma experiência, e irei priorizar o atendimento das minhas poucas exigências.

Longe de tudo, e de todos... exceto dos corvos.