O meu nome é solidão
Por muito tempo arrancaram tijolinhos meus quando colidiam em mim pelas esquinas e pelas ruas da vida. Algumas pessoas iam e voltavam, mas nunca pediam desculpas pelas rachaduras que causavam. Outras foram além da calçada, atravessaram os muros de proteção, as portas do meu coração e as janelas da minha alma, mas nunca nem sequer pediram licença. Quebraram as paredes, descolaram o piso e furtaram os meus melhores sorrisos e até as minhas piores lágrimas. Eu fiquei vazia de mim e cheia dos outros. Eu esqueci quem eu era, o que eu gostava e até os meus sonhos deixei de lado, porque eu sempre mudava as minhas escolhas para agradar os novos hóspedes. E quando eu enxerguei que isso estava me fazendo mal, tomei as poucas forças que me restaram, levantei do chão e tranquei as portas, as janelas, reformei o teto, o chão e as paredes, tudo ao meu gosto, com uma camada extra de proteção. Fui chamada de egoísta e julgada como uma pessoa ruim. Mas eu sou é uma sobrevivente, me deixaram em destroços e me tornei uma casa abandonada porque quando eu não tinha mais nada, se mudaram de mim. Egoísta ou não, não cabe a ninguém julgar as minhas maneiras de continuar de pé, de tentar reformar tudo que quebraram e substituir tudo que furtaram daqui. Estou com placa de aluga-se, mas essa nova casa não permite a entrada de desconhecidos e nem é casa da mãe Joana. É lar, é acolhimento, é amor, mas não para qualquer inquilino.