Ingratidão
Só quimeras restaram dessa relação,
que, em algum tempo passado, era chama,
amor intenso, entre ares e carícias impraticáveis,
sem concessões, disseminando calma e lassidão.
Dos suores, das razões, dessa escravidão carnal,
pouco ficou naqueles beijos ardentes de outrora.
A distância provocou tristeza, tédio e crepúsculos.
Ficou esse caminhar vacilante, confusão de sentimentos.
Não penso mais nessa partida, entre tristezas,
vagas lembranças me confortam, entorpecido, confuso.
Não penso mais nos corpos exaustos e aquecidos,
nem na beleza desses dias inúteis, nessa paz aparente.
Estou perdido nessa impertinente tarde, despeitado,
entre pensamentos, nessa profunda melancolia,
nessa desordem de sentimentos, entre dores e saudades,
embriagando tantos crepúsculos e olhares distantes.
Você foi embora, deixando esse calor, essa sua silhueta,
machucando meus sonhos desprevenidos, nesse cenário.
Essa partida me deixou um mar revolto e tormentas,
sem promessas, nessa quietação de um dia inútil.
Errei pelas noites com meus pensamentos,
órfão, mergulhado nesse tédio, entre suspiros,
prisioneiro desses sentimentos, dessas lembranças.
Náufrago entre marolas, carências e noites enormes.
Marcas indeléveis refletiram nos meus versos,
nesse leito miserável, nessa lassidão entorpecida,
pelo lento deslizar das minhas insônias e feridas.
Ficou tarde para tantos escombros, tanto desamparo.
Um deserto sombrio penetrou esse leito, essa noite,
envolvendo brandamente esse amor proibido, esse abismo.
Deve haver algum lugar de enternecimento, de querubins.
Aqui, nessa casa, só solidão e incerteza inundam essa cama.